Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI275993-10496-2,00-GRANDES+MUDANCAS+NOS+ULTIMOS+ANOS.html
Jussara Mangini. Foto Heather LaVelle/shutterstock

1. DORMIR DE BARRIGA PARA CIMA
Não há dúvidas de que esta é a posição mais segura para o sono do seu filho, uma vez que pode reduzir em até 70% o risco de morte súbita (quando a criança com até 1 ano, por motivo desconhecido, morre de forma inesperada durante o sono). Desde 1992, a Academia Americana de Pediatria faz essa recomendação. O Brasil foi um dos últimos países a oficializá-la – antes, dizia-se para colocar a criança para dormir de bruços e, depois, de lado. A Sociedade Brasileira de Pediatria adotou essa orientação em 2009, mesmo ano em que a Pastoral da Criança iniciou uma campanha para conscientizar os pais sobre a importância de o bebê dormir de barriga para cima. E não precisa ficar com receio do seu filho engasgar se regurgitar durante o sono, porque a quantidade de líquido é pequena e escorre pelos lados da boca. 2. LICENÇA-MATERNIDADE AMPLIADA
Tudo o que você quer é ficar mais tempo com seu bebê, certo? Desde 2008 algumas mães conquistaram o direito de ter a licença-maternidade estendida de seis meses, realidade para as funcionárias públicas de 23 estados e 148 municípios além do Distrito Federal, servidoras públicas federais e para mulheres que trabalham em companhias que aderiram ao programa Empresa Cidadã (uma vez que a concessão do benefício é opcional para as empresas privadas), criado em 2010. Existem outros projetos de lei que pedem a extensão desse benefício para todas as trabalhadoras. “Os seis primeiros meses são insubstituíveis para o crescimento e para o desenvolvimento do bebê, para o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho e para o aleitamento materno exclusivo”, afirma Eduardo Vaz, atual presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Já o pai tem, desde 1988, direito a apenas cinco dias de licença. Há pelo menos dez projetos de lei tramitando no Congresso que pedem a ampliação desse período para até 30 dias. 3. NOVAS TECNOLOGIAS
Há alguns anos, se você fosse viajar e quisesse falar com seu filho, teria de esperar que ele estivesse dentro de casa para atender ao telefone. Hoje, você pode conversar com ele pelo celular ou pelo computador, e ainda vê-lo em tempo real por meio de uma webcam de qualquer lugar do mundo. E não para por aí. Você produz quantas imagens quiser com as câmeras digitais, pode compartilhar em redes sociais, blogs etc. Sem falar dos tablets, como o iPad – e tudo isso está ao alcance do seu filho também. “Hoje nossos filhos podem escolher uma diversidade muito grande de atrativos e brincam com a tecnologia produzindo informação de uma forma que nós nunca ousamos quando éramos crianças”, diz Saulo Ribas, diretor do Mundo do Sítio, site de relacionamento para crianças, da Editora Globo, que traz também jogos e atividades com a turma do Sítio do Picapau Amarelo (mundodositio.com.br) 4. CADEIRINHA OBRIGATÓRIA
Você não deveria encontrar mais nenhuma criança solta no banco de trás do carro. Há pouco mais de um ano, o uso da cadeirinha passou a ser obrigatório em todo o país. Quem transportar crianças com menos de 7 anos e meio sem o dispositivo de segurança é multado. O motorista que infrigir a lei, considerada uma infração gravíssima, leva sete pontos na carteira de habilitação e uma multa no valor de R$ 191,54. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a utilização correta da cadeirinha pode reduzir em até 70% a possibilidade de morte em caso de acidente. 5. ENSINO FUNDAMENTAL AMPLIADO
Desde 2006, o Ensino Fundamental passou a ter um ano a mais, totalizando nove. A grande repercussão aconteceu em relação à mudança da idade de ingresso da escola: hoje a matrícula pode ser feita aos 6 anos, mesmo que completados até o dia 31 de março do ano letivo, ou aos 5, caso o aluno já tenha cursado pelo menos dois anos da educação infantil. A discussão que permanece até hoje é como essa inclusão deve ser feita. Os especialistas afirmam que o primeiro ano deve manter características do antigo pré e, se possível, que as aulas aconteçam nesse mesmo ambiente. 6. DIREITOS DOS PAIS SEPARADOS
Duas importantes leis foram criadas para garantir a boa comunicação entre os pais que não moram mais juntos. A primeira é a da guarda compartilhada, que, desde 2008, tornou realidade o que já era prática para muitas famílias: todas as decisões sobre o filho vão ser tomadas por pai e mãe, juntos. A outra lei que merece destaque é a da alienação parental, que tem um nome estranho, mas é fácil de entender: dificultar o contato com um dos pais, reclamar do “ex” na frente do filho, mudar de endereço sem avisar. Desde 2010, situações como essas podem levar à punição quem praticá-la, que varia desde aplicação de multa diária em dinheiro definida pelo juiz até resultar na perda de guarda. 7. DESCOBERTA DO SEXO DO BEBÊ
A ciência arrumou um jeito de acabar com a curiosidade dos pais sobre o sexo do bebê mais cedo! Desde 2003 é possível saber se vai ser menino ou menina, a partir da oitava semana de gestação, com um simples exame de sangue (chamado sexagem fetal) – antes, você precisava esperar para fazer um ultrassom por volta da 12ª semana. Funciona assim: a detecção do cromossomo Y indica que o feto é masculino e a ausência do mesmo, que é feminino. 8. CORDÃO SALVA-VIDAS
Uma importante descoberta da última década revelou que o sangue do cordão umbilical é fonte rica de células-tronco (células que produzem todos os outros tipos de células do sangue) e que ele poderia ser utilizado no tratamento de doenças graves, como leucemia e linfoma. Daí a importância da criação de bancos públicos de sangue de cordão, que realizam a coleta em algumas maternidades credenciadas do país – no Brasil, essa rede, a Brasilcord, foi criada em 2004. A ideia é garantir diversidade, uma vez que a população tem perfil genético diferente. Há ainda a opção de congelar em um banco privado, mas você pode tratar poucas doenças com esse material e, se a pessoa tiver alguns desses problemas, não se recomenda usar seu próprio sangue, uma vez que ela pode ter predisposição para a doença. 9. MAIS VACINAS
Os últimos dez anos foram marcados por avanços nas pesquisas que resultaram em uma maior oferta de vacinas disponíveis. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 1983, o calendário nacional de imunização infantil tinha sete tipos de vacinas inclusas. Hoje, são 11 – no último ano, entraram as contra pneumococo, meningite e gripe –, fora as disponíveis apenas na rede privada, entre elas contra a catapora. O calendário brasileiro é um dos mais completos do mundo. 10. COMPANHIA NO PARTO
Os médicos não se cansam de falar desse benefício para a gestante antes, durante e depois do trabalho de parto: com alguém ao seu lado, ela se sente mais acolhida e segura, o que faz com que colabore melhor com a equipe médica, e, para o pai, é uma oportunidade de criar laços emocionais e curtir o bebê desde o primeiro minuto de vida. Mas só em abril de 2005 as grávidas brasileiras passaram a ter esse direito legalmente nas maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS). 11. NÃO À PUBLICIDADE INFANTIL
Qual é o limite das propagandas que seu filho vê entre um desenho e outro? Nos últimos anos, essa discussão ganhou destaque. É consenso que crianças com menos de 12 anos não têm capacidade crítica e, portanto, estão mais vulneráveis às mensagens publicitárias. “A propaganda de produtos voltados para essa faixa etária deve ser direcionada aos pais”, afirma Laís Fontenelle Pereira, psicóloga, coordenadora de Educação do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana. Para você ter uma ideia, há mais de 100 projetos de lei (mesmo!) tramitando em diferentes instâncias do governo para tentar regulamentar a publicidade infantil, mas ainda não existe uma lei brasileira específica para isso. Não avançou nem mesmo um termo de compromisso assinado em 2007 por diversas empresas de alimentos e bebidas, que se comprometeram a não anunciar para crianças esses produtos.
12. REPRODUÇÃO ASSISTIDA
O avanço mais recente, e também um dos mais comemorados, é o diagnóstico genético pré-implantacional, que consegue triar grande parte dos problemas genéticos ligados ao cromossomo do embrião. Ou seja: se na sua família existem casos de alguma doença genética, você pode optar por fazer a avaliação dos embriões. Os que carregarem essa alteração, são descartados, e os mais saudáveis, são selecionados. Essa técnica está disponível no Brasil há pouco mais de um ano. Outro avanço foi a resolução do Conselho Federal de Medicina que, em 2010, limitou o número de embriões a serem transferidos para o útero nas técnicas de reprodução assistida (no caso de mulheres com até 35 anos, por exemplo, são liberados dois) na tentativa de reduzir o número de gestações múltiplas, que oferecem riscos para mãe e bebê, como aborto e parto prematuro.
13. ALEITAMENTO MATERNO
A recomendação da amamentação exclusiva por seis meses não é nova. No entanto, aumentou a publicação de estudos sobre os benefícios. Para você ter uma ideia, dos 361 artigos científicos sobre estudos relacionados a aleitamento materno que constam na SciELO (biblioteca eletrônica virtual de periódicos científicos brasileiros e latino-americanos), 54% foram publicados nos últimos cinco anos. Os mais recentes mostram que há redução de infecções intestinais em curto prazo, prevenção de obesidade na vida adulta, aumento do QI e menores níveis de pressão arterial e de colesterol.
14. PAPINHA INCREMENTADA
Se antes eram evitados certos alimentos no primeiro ano, como ovos e peixes, por exemplo, com medo de que a criança desenvolvesse alguma alergia, desde 2008 Brasil, Estados Unidos e Europa recomendam introduzir alimentos, sem restrições, a partir do sexto mês, para evitar alergias mais tarde. A mudança, através dos órgãos de saúde desses países, chegou também na maneira de preparar a papa: há 15 anos pedem para não batê-la no liquidificador, uma vez que nutrientes e fibras são perdidos. O ideal é que a papa seja amassada com o garfo. Com o passar do tempo e do desenvolvimento da criança, os pedaços vão ficando maiores.
15. MAMADEIRAS SEM BISFENOL
A Você já deve ter ouvido falar dessa substância, presente em produtos feitos de policarbonato (um plástico rígido e transparente) e nociva para o nosso organismo – ela é suspeita de causar problemas como câncer, abortos e infertilidade. União Europeia, Canadá, China, Malásia, Costa Rica e 11 estados americanos, já tinham banido o bisfenol A, e agora chegou a vez do Brasil, que proibiu a produção e comercialização apenas de mamadeiras com essa substância. Um dos motivos é que o aquecimento da mamadeira leva a um maior desprendimento do bisfenol, que entra em contato com líquidos e alimentos, prejudicando a saúde da criança.
16. AGILIDADE NA ADOÇÃO
Ficou mais fácil adotar desde 2009, quando foi reformulada a Lei da Adoção brasileira. A partir dela, foi criado o Cadastro Nacional de Adoção, que reúne os dados das pessoas que querem adotar e das crianças e adolescentes aptos. Esse sistema reduz o tempo de espera, uma vez que um casal do Rio de Janeiro, por exemplo, pode adotar uma criança de Recife sem precisar se cadastrar na Vara da Infância e Juventude daquela cidade.
17. FAMÍLIAS GAYS
Uma propaganda recente na TV, que mostra uma criança dizendo ao pai que na classe dele um colega tem dois pais, e que por isso outra criança deve ter duas mães, revela as discussões que estão acontecendo. Para a criança, tudo é natural, mas isso vai depender também de como você encara essa questão. O primeiro caso de adoção por homossexuais no Brasil aconteceu em 2006 e abriu precedentes para tantas outras novas famílias se formarem, oficialmente. A adoção por casais homossexuais também deve ficar mais fácil pela decisão do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu, em maio, a união estável entre casais do mesmo sexo.
18. MAIS CULTURA E DIVERSÃO
Nunca se produziu tanto para as crianças. Em 2010, o segmento infantojuvenil colocou no mercado editorial mais de 60 milhões de exemplares, o equivalente a 15% da produção nacional, ficando atrás apenas dos didáticos e religiosos. Há 16 anos, as editoras publicavam em torno de 600 a 850 títulos infantis em bons períodos. Também em 2010, músicos que até então falavam para o público adulto começaram a gravar discos infantis, como Adriana Calcanhoto, a dupla Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra e o grupo Pato Fu. Dos poucos canais com programação infantil, passamos a uma programação exclusiva com 24 horas para crianças.
Fontes: Abner Lobão Neto, ginecologista e obstetra, da Unifesp; Alessandra Françoia, coordenadora nacional da ONG Criança Segura; Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana; Beth Carmona, presidente do Midiativa; Carlos Luiz Gonçalves, consultor educacional; Eduardo Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria; Fabiola Suano, pediatra e nutrolóloga, membro do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria; Laís Fontenelle Pereira, coordenadora de Educação do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana; Luís Fernando Bouzas, coordenador da Rede Brasileira de Bancos Públicos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário; Regina Beatriz Tavares da Silva, advogada e presidente da Comissão de Direito da Família do Instituto dos Advogados de São Paulo; Saulo Ribas, diretor dO Mundo do Sítio, rede de relacionamento para crianças, da Editora Globo; Sonia Corina Hess, engenheira química, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
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